Exercícios sobre o cangaço (com gabarito explicado)
Os exercícios sobre o cangaço apresentados neste conteúdo foram elaborados para ajudar estudantes a compreender um dos fenômenos mais marcantes da história social do Brasil. Por meio de textos, questões e gabaritos explicados, você vai revisar como o cangaço refletia as contradições do sertão nordestino — entre resistência, violência e poder local — e entender seu papel na formação histórica do país. Essas atividades são ideais para quem está se preparando para o ENEM ou deseja aprofundar seus conhecimentos sobre a História do Brasil.
Questão 1
"Não por acaso, nesse momento ganharam fama, ultrapassando a fronteira do sertão, chefes de bandos armados, como Antônio Silvino, Lampião e Antônio Dó; personagens ambíguos, representativos de uma alternativa às relações de poder enraizadas na posse da terra. Ao mesmo tempo que acenavam para uma vida mais justa e igualitária, terminaram reproduzindo as antigas marcas da violência e do arbítrio."
(SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 334.)
O texto caracteriza o cangaço como um movimento de ambiguidade, que emergia como alternativa às estruturas de poder no sertão nordestino. Essa ambiguidade se expressa na:
a) subordinação dos cangaceiros ao movimento tenentista, que financiavam suas ações em troca do ataque às oligarquias cafeeiras.
b) contradição entre o discurso de contestação às elites agrárias e a reprodução de práticas violentas e autoritárias.
c) aliança estratégica entre cangaceiros e representantes do governo federal para combater o poder dos coronéis.
d) defesa de valores religiosos tradicionais combinada com práticas de banditismo que atacavam igrejas e questionavam a moral católica.
e) organização hierárquica dos bandos, que mesclava elementos e armamentos militares modernos com costumes arcaicos do sertão.
a) Incorreta. O movimento tenentista tinha pautas políticas urbanas e nacionais, sem relação direta com o cangaço, que possuía dinâmica local e autônoma.
b) Correta. A ambiguidade mencionada no texto se revela na oposição entre o ideal de justiça e a repetição de práticas violentas e autoritárias típicas do poder que se criticava.
c) Incorreta. Os cangaceiros não agiam sob coordenação ou parceria com o governo federal, sendo vistos como inimigos da ordem e perseguidos pelas forças oficiais.
d) Incorreta. Embora muitos cangaceiros fossem religiosos, o cangaço não se caracterizava por ataques sistemáticos à Igreja nem por uma negação dos valores católicos.
e) Incorreta. O texto-base não trata de tais elementos como ponto central da ambiguidade do cangaço. Além disso, é impreciso afirmar que o grupo utilizava armamentos de última geração para a época.
Questão 2
Texto para as questões 2 e 3:
O "banditismo rural" no Brasil foi gestado desde a época colonial, com a divisão da terra em grandes latifúndios e a necessidade de jagunços para protegê-los. As razões e a pulsão violenta de homens como Silvino Jacques, Antônio Dó, Antônio Silvino, Lampião e Corisco se inserem nos contextos históricos da Colônia, Império e República, respectivamente com a gênese do latifúndio, sua consolidação e a força política do paroquialismo dos coronéis.
(RIBEIRO, Arnor Da Silva. Mundos de Silvino Jacques: terra, banditismo rural, poder e sociedade na Fronteira Oeste do Brasil (1929-1939). (Dissertação de Mestrado em História) São Paulo, 2011. p. 141)
A análise do autor sobre o banditismo rural no Brasil estabelece uma relação de continuidade histórica entre diferentes períodos. Essa perspectiva tem como objetivo:
a) evidenciar que as origens do fenômeno do banditismo remontam às estruturas fundiárias e de poder estabelecidas desde o período colonial.
b) demonstrar que o cangaço surgiu como resistência organizada dos trabalhadores rurais contra a exploração dos latifundiários.
c) comprovar que os cangaceiros eram contratados pelos coronéis para defender suas propriedades contra invasões de pequenos posseiros.
d) destacar que o banditismo rural se fortaleceu apenas durante a República, com o enfraquecimento do poder central.
e) indicar que os bandos armados do sertão atuavam de forma desvinculada das estruturas econômicas e políticas regionais.
a) Correta. O autor destaca a longa duração do banditismo rural, ligado à concentração da terra e ao poder dos coronéis, que se formam desde a colonização e permanecem como estrutura de dominação.
b) Incorreta. O cangaço não foi um movimento coletivo de trabalhadores organizados, mas expressão fragmentada e contraditória de resistência e poder local.
c) Incorreta. Embora alguns coronéis eventualmente se beneficiassem dos cangaceiros, o autor não reduz o fenômeno a simples contrato de defesa de propriedades.
d) Incorreta. O texto explicita que o banditismo atravessa Colônia, Império e República, portanto não se restringe ao contexto republicano.
e) Incorreta. Ao contrário do que propõe a alternativa, o autor afirma que o banditismo estava intimamente ligado às estruturas econômicas e políticas do sertão.
Questão 3
Texto para as questões 2 e 3:
O "banditismo rural" no Brasil foi gestado desde a época colonial, com a divisão da terra em grandes latifúndios e a necessidade de jagunços para protegê-los. As razões e a pulsão violenta de homens como Silvino Jacques, Antônio Dó, Antônio Silvino, Lampião e Corisco se inserem nos contextos históricos da Colônia, Império e República, respectivamente com a gênese do latifúndio, sua consolidação e a força política do paroquialismo dos coronéis.
(RIBEIRO, Arnor Da Silva. Mundos de Silvino Jacques: terra, banditismo rural, poder e sociedade na Fronteira Oeste do Brasil (1929-1939). (Dissertação de Mestrado em História) São Paulo, 2011. p. 141)
Na interpretação do autor, o banditismo rural brasileiro está estruturalmente vinculado:
a) à ausência de políticas públicas de educação no campo durante o período republicano.
b) ao processo histórico de concentração fundiária e às relações de poder dele decorrentes.
c) à influência cultural dos movimentos messiânicos que marcaram o sertão nordestino.
d) ao isolamento geográfico do interior do país, que dificultava a ação das forças policiais.
e) à tradição familiar de vingança privada herdada dos colonizadores portugueses.
a) Incorreta. A ausência de educação rural contribuiu para agravar as desigualdades, mas o texto foca nas bases fundiárias e políticas da violência, não em políticas educacionais.
b) Correta. O autor associa o banditismo rural ao histórico de concentração da terra e às relações de poder daí derivadas, como o coronelismo e o mando local.
c) Incorreta. Os movimentos messiânicos, embora contemporâneos em alguns momentos, são fenômenos distintos do banditismo armado.
d) Incorreta. O isolamento geográfico explica apenas a dificuldade de repressão, não a origem estrutural do fenômeno.
e) Incorreta. A vingança familiar era um traço cultural existente, mas o texto aponta causas socioeconômicas e políticas mais amplas.
Questão 4
"O cangaço utilizava práticas violentas e vilipendiou a lei em prol dos interesses dos bandos (de cangaceiros) em meio ao sertão nordestino. Para além da promoção do medo e do caos por meio de saques e sequestros, esses bandos também exerciam um certo fascínio na população, eram respeitados e até ajudados nas suas empreitadas. O bando mais notório, o de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, era ajudado por coronéis que forneciam armas, munição, alimentos e até hospedagem para o bando."
(CRUZ, Ana Karla da Silva. As mulheres no cangaço nordestino (1916-1938): um manual pedagógico para o ensino de história / Ana Karla da Silva Cruz. – 2024. p. 40)
O texto apresenta uma visão complexa do cangaço, destacando tanto suas práticas violentas quanto o apoio que recebia de setores da sociedade sertaneja. Essa aparente contradição pode ser explicada pela:
a) romantização dos cangaceiros pela literatura oficial do Estado Novo, que os transformava em heróis populares desvinculados de suas ações reais.
b) incapacidade da população de distinguir entre ações legítimas de resistência e práticas criminosas de banditismo.
c) ausência total de forças policiais no sertão, o que obrigava a população a negociar com os cangaceiros para garantir proteção.
d) percepção dos cangaceiros como figuras que desafiavam a ordem estabelecida em um contexto marcado pelo mandonismo e pela ausência de justiça formal.
e) identificação popular com o cangaço como única forma de mobilidade social em uma sociedade marcada pela rigidez hierárquica.
a) Incorreta. O Estado Novo não produz uma narrativa de valorização romântica do Cangaço, mas sim um contraste entre a modernização varguista com o arcaísmo do cangaço sertanejo.
b) Incorreta. A historiografia contemporânea evita explicações que retiram a agência dos sujeitos históricos, ou que afirmam que as classes populares seriam "ignorantes" ou incapazes de fazer julgamentos de acordo com sua realidade material.
c) Incorreta. Ainda que houvesse dificuldades de policiamento, não existia ausência total do Estado no sertão e o apoio aos cangaceiros ia além do medo ou da proteção.
d) Correta. Muitos sertanejos enxergavam os cangaceiros como figuras que enfrentavam a dominação dos coronéis e a falta de justiça formal, o que explicava a mistura de medo e admiração.
e) Incorreta. Embora o cangaço pudesse oferecer ganhos materiais, não se configurava como forma real de ascensão social, pois a vida nos bandos era instável e perigosa.
Questão 5
Texto I
"O cangaceiro que irrompe como uma cascavel doida deste monturo social significa, muitas vezes, a vitória do instinto da fome – fome de alimento e fome de liberdade – sobre as barreiras materiais e morais que o meio levanta"
(CASTRO, Josué de. Geografia da fome (o dilema brasileiro: pão ou aço). Rio de Janeiro, 10ª edição. Edições Antares, 1984. n.p.)
Texto II
"Em relação às elites locais, a atitude de Lampião variava entre abordagens pacíficas e confrontos para realizar saques e pilhagens. Ocasionalmente recebiam auxílio e proteção de coronéis em troca de favores e contratação de seus serviços. Portanto, o cangaço operava dentro das contradições e rivalidades dos coronéis, agindo conforme fosse mais conveniente para o bando."
(TODA MATÉRIA. Quem foi Lampião (cangaceiro): história resumida. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/lampiao-cangaceiro/.)
Os textos apresentam interpretações distintas sobre as motivações e a atuação dos cangaceiros. Compare as duas perspectivas e identifique a alternativa que expressa corretamente a ênfase de cada texto:
a) o Texto I caracteriza o cangaço como movimento irracional e instintivo, enquanto o Texto II enfatiza sua organização militar e hierárquica.
b) o Texto I destaca a violência indiscriminada contra a população, enquanto o Texto II ressalta o papel protetor dos cangaceiros nas comunidades sertanejas.
c) o Texto I interpreta o cangaço como movimento revolucionário organizado, enquanto o Texto II o reduz à simples criminalidade comum.
d) o Texto I enfatiza o viés marxista das lideranças do cangaço, enquanto o Texto II demonstra sua subordinação aos interesses dos coronéis.
e) o Texto I apresenta o cangaço como resposta à miséria e à opressão social, enquanto o Texto II evidencia sua atuação pragmática nas disputas entre as elites locais.
a) Incorreta. O Texto I não trata o cangaço como algo irracional, mas como resultado das carências sociais, e o Texto II não se foca em estrutura militar e hierárquica.
b) Incorreta. Nenhum dos textos defende que o cangaço realizava uma “violência indiscriminada” contra a população.
c) Incorreta. O Texto I não classifica o cangaço como movimento revolucionário e o Texto II não o reduz simplesmente à criminalidade.
d) Incorreta. O Texto I não defende um viés marxista ao cangaço e o Texto II não apresenta o cangaço como subordinado aos coronéis, mas como agente que negociava com eles.
e) Correta. Josué de Castro interpreta o cangaço como reação à fome e à opressão, enquanto o texto do portal Toda Matéria mostra seu caráter pragmático e adaptável às disputas políticas locais.
Questão 6
"No bando, as mulheres faziam tarefas domésticas como qualquer outra dona de casa: cozinhavam (muito embora essa fosse uma tarefa feita quase sempre por homens), lavavam roupas e pratos, cuidavam da limpeza e organização da sua tenda, eram parceiras de seus companheiros. Os outros cangaceiros as respeitavam. Isso era como um código de conduta que os chefes de bando exigiam de seus comandados. Seus companheiros lhes davam presentes, como joias, perfumes e roupas, fruto dos roubos cometidos. A traição era punida com a morte."
(SILVA, Dorgival Ferreira da. Cangaço: sofrimentos, crimes e lutas no sertão nordestino. Maceió: Universidade Federal de Alagoas. 2020. p. 44-45)
O texto evidencia que, apesar de representar uma ruptura com a ordem social estabelecida no sertão, o cangaço:
a) promoveu a emancipação feminina ao permitir que mulheres participassem frequentemente de combates armados.
b) estabeleceu relações de gênero igualitárias, eliminando as hierarquias tradicionais entre homens e mulheres.
c) reproduziu papéis de gênero convencionais, mantendo as mulheres em funções domésticas e sob controle masculino.
d) implementou códigos de conduta progressistas que garantiam autonomia e liberdade sexual às cangaceiras.
e) transformou as mulheres em lideranças dos bandos, invertendo as relações de poder típicas da sociedade sertaneja.
a) Incorreta. A presença de mulheres nos bandos não implicava emancipação, pois elas raramente participavam de combates e seguiam normas rígidas.
b) Incorreta. Segundo o texto-base, as relações entre homens e mulheres continuaram desiguais, sem romper com a hierarquia tradicional sertaneja.
c) Correta. As funções femininas descritas mantêm o padrão doméstico e o controle masculino, reproduzindo papéis convencionais mesmo dentro de um contexto fora da lei.
d) Incorreta. O código de conduta dos bandos era severo e não concedia liberdade sexual às mulheres, punindo traições com violência extrema.
e) Incorreta. Nenhum registro histórico aponta mulheres como líderes dos bandos, o que reforça a permanência do poder masculino.
Questão 7
"O Estado Novo pôs a funcionar toda uma maquinaria de esquecimento do cangaço. A grande imprensa é intimada a silenciar sobre seus feitos; a gritar, em grandes manchetes, o seu fim. Os cangaceiros, a partir desse momento, são tratados como criminosos comuns. Estes não passam de hostes de bandidos que ainda perambulam pelo sertão. (...) O silêncio se faz ouvir e o cangaceiro mergulha nas sombras para brilhar como ʼsímbolo de um passadoʼ, vencido pela ordem e pela civilização."
(ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. A invenção do nordeste e outras artes. São Paulo: Cortez, 2011 p. 230)
A política do Estado Novo em relação ao cangaço, descrita no texto, tinha como objetivo:
a) preservar a memória dos cangaceiros como heróis populares que resistiram às injustiças sociais do sertão.
b) promover o debate público sobre as causas sociais que levaram ao surgimento do banditismo rural.
c) valorizar a cultura sertaneja através do reconhecimento da importância histórica dos bandos de cangaceiros, a despeito das violências cometidas.
d) construir uma narrativa de superação do atraso regional em contraste com modernização representada pelo regime varguista.
e) estabelecer políticas de reparação às vítimas da violência praticada pelos grupos armados no Nordeste.
a) Incorreta. O Estado Novo não buscou preservar a memória dos cangaceiros como heróis, mas sim apagá-la para reforçar a imagem de ordem e progresso.
b) Incorreta. O regime não estimulava debates sociais, preferindo ocultar as causas do banditismo e reforçar a autoridade estatal.
c) Incorreta. A cultura sertaneja foi, em geral, tratada como símbolo de atraso, não como patrimônio valorizado pelo governo Vargas.
d) Correta. O texto mostra que o Estado Novo silenciou o tema do cangaço para construir a ideia de que a “civilização” moderna do regime havia superado o atraso e a violência do sertão.
e) Incorreta. Não houve políticas de reparação às vítimas do cangaço, pois o objetivo era encerrar o assunto e consolidar o controle político sobre o imaginário regional.
Continue testando seus conhecimentos com exercícios de História para o 9º ano e exercícios de História para 3º ano do Ensino Médio.
PEREIRA, Lucas. Exercícios sobre o cangaço (com gabarito explicado). Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/exercicios-sobre-o-cangaco-com-gabarito-explicado/. Acesso em: